Um dia, passando por uma veterinária, notei uma gaiolinha onde estavam um gato filhote e outro adulto. O espaço era muito pequeno mas havia proteção. Não resisti e procurei saber a história completa. Descobri que, originalmente, eram cinco gatos: quatro filhotes e a mãe. Todos haviam sido deixados dentro de uma caixa, havia alguns dias, no portão da veterinária (coisa que acontece regularmente). Acolhidos, três filhotes foram adotados, faltando mais um e a gata adulta. Fiquei angustiada! Entre um carinho e outro, pelas grades da gaiolinha, sentia a carência daquela mãe abandonada. Decidi, mesmo já tendo outros três gatos, que ficaria com aquela fêmea! Tudo se acertou, o filhote seria adotado em breve e eu, então, apanharia a gata. Fui para casa. A angústia não diminuiu. Sentia em mim a perplexidade daquele animal que se viu abandonado, se manteve em uma caixa, na rua, com seus filhotes por sei lá quanto tempo. Sentia a carência de afeto, de segurança...
Não deixei o tempo passar! Voltei à veterinária e peguei a fêmea. Imediatamente levei ao profissional que cuida dos três outros.
Dizem que nada é por acaso...
Aquela gata, magra, com o pelo sem cor definida, lindos e tristes olhos verdes, dócil...extremamente dócil...estava quase morrendo e não manifestava sua dor ou desconforto.
Como ficou fechada em um espaço pequeno com seus filhotes, ela não evacuou por todos aquele dias evitando, por instinto e, certamente, por amor, contaminar suas crias. As fezes estavam duras como pedra nos intestinos. Parecia que a história não teria final feliz. O veterinário massageou o abdome e só restava aguardar. Se, em algumas horas, a gata não evacuasse seria submetida a uma cirurgia de altíssimo risco. Fui para casa com ela. No caminho senti o pior e, ao mesmo tempo, o melhor cheiro possível. Ela evacuou. Sobreviveu!
A DOCE E ELEGANTE MARIE!