sábado, 19 de fevereiro de 2011

Efêmero


Não existe mais o banco...
Não existe mais o verde...
Nem existe esse caminho...
Outro será construido!

Nova Friburgo

Pela primeira vez, após a catástrofe, retorno a Nova Friburgo. É como chegar ao mesmo lugar onde vivi por mais de 14 anos. Continuo... No Viaduto do Paissandu, começo a olhar em volta e para o alto. As montanhas, antes molduras esplêndidas de Mata Atlântica, apresentam feridas abertas, grandes e profundas, deixando a mostra rocha escura. Não é uma montanha, são todas! Continuo o lhando, estou hipnotizada pela nova paisagem. Tento imaginar a perplexidade e o pavor, de quem estava na cidade, no dia do desastre. Tento imaginar aqueles que fugiam da avalanche que escorria das montanhas. O escuro, a chuva, o horror e sinto que não é possível imaginar. Não é possível criar na minha mente tanta água, lama, pedra e morte! Angustiada quebro o transe e minha vista se afasta das montanhas. Encontro ruas e calçadas danificadas e paredes marcadas, tudo com muita poeira. A circulação de caminhões, máquinas, escavadeiras, mostra que a limpeza é frenética mas que o entulho, mesmo diante da tecnologia e do dinheiro, é infinito. Não vejo reconstrução... Agora as pessoas! Não estão alegres nem tristes, estão tentando retornar ao seu cotidiano. Passam por mim sérias, concentradas, parece que todo um povo se encontra em estado de alerta. Sinto que cada um, da sua forma e para o seu deus, está em oração com apenas um pedido: não chover! Não é para evitar uma tempestade, noto que não pode chover nem “um copo d’água”. As pessoas não estão prontas. Sigo pelas ruas, tudo está diferente, parece mais velho, mais gasto e com muita, muita poeira... Me sinto fraca, impotente e certa, mais uma vez, da nossa (espécie humana) insignificancia diante da natureza. Não importa o tamanho da nossa pretensão! As horas vão passando...tenho um encontro... Vou rever alguém muito caro ao meu coração, mas isso é uma outra história...
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